"Todo fanatismo é estratégia para impedir que a dúvida se torne consciente."
Harry Williams (1919-2006), teólogo inglês
"Do fanatismo à barbárie não há mais do que um passo."
Denis Diderot (1713-1784), filósofo, escritor e crítido de arte francês.
"Não há nada mais assustador que a ingnorância em ação."
Johann W. von Goethe (1749-1832), escritor alemão.
Podemos não saber descrever como deixamos de ser coletores, morando isolados em cavernas, e nos tornamos capazes de criar e produzir coisas vivendo em conjunto em uma grande civilização. Mas sabemos qual foi o motor deste processo: a Ciência.
Aquele que primeiro se incomodou com a própria ignorância sobre como alguma coisa acontecia, foi o criador da Ciência. A origem da Ciência, e sua base de sustentação é, portanto, a ignorância.
Ora, mas como saber se ignoramos!? Parece um contra-senso. É aí que entra uma das maiores habilidades humanas: imaginar, desenvolver uma hipótese, uma ideia sobre o que poderia estar na raiz de um acontecimento e, então, criar um modelo.
Um cientista quando quer "descobrir" e seus cinco sentidos não são suficientes, constrói um modelo. Um modelo é um conjunto de premissas e interações imaginadas como verdades e que são testadas exaustivamente frente à realidade. Enquanto houver coerência entre realidade e resultado gerado pelo modelo, continua-se a usá-lo, mas uma vez que apresenta falha ou não concordância, ou seja, não explica o que era esperado que explicasse, o modelo é corrigido ou abandonado.
Lembremos de como era o sistema Solar até pouco mais de 600 anos atrás. O Sol girava a em torno da Terra. Girava? Bem, não é bem isso o que sabemos desde que Galileu Galilei, por volta de 1600, descobriu que todos estavam errados e que era exatamente o contrário, era o planeta Terra que girava em torno do Sol. O que mudou?
Galileu, inconformado com algumas inconsistências do modelo até então proposto, elaborou um outro modelo capaz de explicar as falhas que percebia. Mas por quê só no início do século 17 foi feta a descoberta? Bem, aqui entra uma outra característica do desenvolvimento científico: a convergência de descobertas. Galileu teve o privilégio de ter contado com uma outra descoberta recente, o telescópio, o que lhe propiciou descobrir as manchas solares, as fases da lua... e a astronomia depois dele sofreu uma revolução.
Você sabia que ainda hoje, no ano de 2012, não é possível enxergar um pedaço de DNA? Em 1953, dois cientistas trabalhando juntos, depois de muitos modelos fracassados, conseguiram, imaginando uma hélice dupla, desenvolver um modelo que lhes permitiu, sem ver, criar uma imagem que deu à humanidade resposta para muitas das dúvidas que existiam à época sobre como somos tão diferentes e tão iguais uns aos outros.
Se ainda não conseguimos, com todas as tecnologias à nossa disposição, enxergar o DNA, podemos imaginar que ainda nos falta percorrer um bom caminho até conseguirmos enxergar um átomo - o que forma toda a matéria -, apesar de já termos um arcabouço grande de conhecimento sobre como os átomos funcionam.
O principal, portanto, é nos lembrarmos sempre que nossas explicações, sobre o que quer que seja, estão subordinadas à amplitude e profundidade de nossos conhecimentos. Se duas pessoas tiverem o mesmo conjunto de conhecimentos, terão grande possibilidade de terem visões muito parecidas sobre tudo, e as divergências ficarão por conta do fato de seus DNA's serem diferentes.
UMA PALAVRA SOBRE RELIGIÕES
Uso o plural para ressaltar o óbvio: a infinita multiplicidade de teorias sobre como o planeta Terra e os seres vivos, em especial o ser humano, foram criados, e qual o nosso destino. Podemos mesmo dizer que há uma teoria para cada cabeça e, se somos quase 7 bilhões de seres, 7 bilhões de formas de explicar existem.
Este espaço não se dedica, portanto, a tratar de crenças, mesmo porque seria inglório, inviável. Então, concordemos que:
- Religião se sustenta sobre fé, e fé, por definição, é crer sem questionar.
- A fé, portanto, pode parecer uma insensatez, mas não é. Para quem crê, é uma solução para a vida.
- Crer é uma convicção íntima que só ao crente diz respeito. Tal como não-crer, só diz respeito ao ateu.
- Tememos o que não entendemos, então, buscamos uma explicação. Pela fé ou pela ciência. Os meios divergem, mas os fins são os mesmos.
- O homem por muitos séculos se viu egocêntrico, imaginou que tudo era feito em função dele, isto o levou inevitavelmente à pergunta que se tornou sua angústia: para quê existimos?
- Acreditar numa entidade criadora de tudo, onipresente, onipotente e onisciente, é uma opção de foro íntimo, que atende a necessidades, emoções e sentimentos únicos. Não acreditar, também.
Me sirvo do que disse um cientista para deixar claro o que norteia este espaço:
LAWRENCE KRAUSS: “(...) somos [os cientistas] movidos pela dúvida. O que move nossa curiosidade é a busca de respostas para os mistérios da natureza. Sabemos que não temos todas as respostas e que mesmo as respostas que temos não são verdades definitivas. (...) A ciência lida muito bem com a existência de mistérios à espera de serem revelados. Sempre haverá perguntas sem respostas e mistérios a descobrir”.
Participar desta busca por respostas, é o melhor que posso fazer por mim mesmo e pelos que me rodeiam. E me responde plenamente à questão: "para quê existo?"
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